Há muito tempo atrás, os Punks surgiram gritando “faça você mesmo” em um mundo estagnado e acomodado:
- Nada de pagar por roupas iguais às de todo mundo, vamos customizar.
- Mesmo que não saibamos tocar como o Pink Floyd, podemos tocar em volume alto, com três acordes, e criar nossa própria música, nossos próprios clássicos.
- Vamos criar arte a partir de elementos despercebidos e desprezados e mudar pra sempre o que as pessoas conhecem por arte.
- Não precisamos viver e nos comportar como esperado, mas do modo que formos felizes.
Estas premissas eram a ponta de lança de um novo modo de ver o mundo, orgânico e revolucionário, e talvez não fizessem tanto sentido naquela época como fazem hoje.
Índice
Hey Ho Let’s Go
Em um tempo onde confiamos demais em ferramentas e especialistas, esperamos seguir “fórmulas de sucesso” e a partir delas obter resultados de forma inequívoca, ainda há espaço para algumas ideias que não seguem nada que possa ter sido previsto antes, e mesmo assim produzem resultado. Não são o ideal, mas funcionam, e têm o mérito de terem surgido a partir de iniciativas criativas de pequenos e médios empresários, da máxima “do it yourself, DIY”.
Se grandes empresas dependem tantas vezes de uma movimentação paquidérmica de políticas e estruturas, e se apegam ao uso de soluções tecnológicas encaixotadas, as pequenas e médias empresas vão lá e fazem. É por isso que iniciativas como o Google, Facebook e Instagram surgiram “do nada”, de pequenos empreendedores, e estruturas formais de empresas maiores não foram capazes de produzir estas ideias antes.
Então, enquanto mais algumas fórmulas mágicas surgem na internet e alguns especialistas têm suas teorias compartilhadas como dogmas do sucesso pelo rebanho dos milhões, vamos à três singelos exemplos práticos de uso criativo de tecnologia por pequenas empresas, que no espírito do faça você mesmo, geraram resultados.
Tablets no lugar da vitrine
Depois de conseguir finalmente alugar um pequeno espaço comercial para sua pequena loja de camisetas, no esquema do “construa e eles virão”, logo no primeiro dia da realização do sonho, um pequeno empresário se deparou com o seguinte problema: não havia espaço para vitrine, não havia como acomodar as dezenas de modelos de camisetas disponíveis para chamar a atenção dos clientes.
Foi então que surgiu a ideia de utilizar dois tablets como vitrine, espalhando os modelos mais atrativos e desejados usualmente pelos clientes em pontos estratégicos.
Ao chegar no ponto de venda, os clientes eram convidados a conferir os modelos correndo as fotos baixadas da loja virtual e armazenadas no tablet, sem um aplicativo próprio para isso, apenas utilizando o software padrão que estava disponível, sem nenhum investimento além dos tablets,
Assim, o negócio pôde superar seu primeiro desafio, que acabou escapando do planejamento, e iniciar sua operação.
Página de venda e Instagram
Muito antes de se ouvir falar nas altas taxas de engajamento do Instagram, e da vantagem que esta rede oferece eventualmente, ao simplesmente utilizar como critério principal a ordem cronológica para mostrar fotos e vídeos, uma micro empresária que vende produtos cosméticos se viu diante de um problema: não tinha recursos para pagar alguém para cuidar de sua promoção na internet, tampouco para investir em anúncios, e menos ainda tempo para postar conteúdo da forma mais adequada no site e redes sociais para trabalhar adequadamente seu marketing digital.
Foi então que ela resolveu focar no positivo, isto é, no seu considerável número de seguidores no instagram, e seu alto engajamento. Sem muitos recursos para começar, investiu na criação de uma landing page, integrada com o instagram: todas as fotos e vídeos postados, “caiam” na galeria do site.
Com um pequeno texto de perfil, um vídeo de menos de um minuto falando de si e seus produtos, uma galeria de mídia bacana automatizada a partir do instagram, e um fomulário de contato, a pequena empresária criou uma “página de venda” super eficaz, muito antes que o conceito de “página de venda” fosse popular na internet, iniciando um ciclo de sucesso na captação de contatos e vendas artesanais pela internet.
Anti blog, Anti SEO, com ótimos resultados
Este exemplo diz muito sobre contexto, e como algo que naturalmente se aplica a maioria doas negócios, acaba sendo totalmente irrelevante para outros.
Um profissional liberal de longa estrada, resolveu investir na criação de um site, mas quando confrontado com a importância da criação de um blog para obter mais resultados, logo descartou a ideia, pela sua falta de tempo e disposição para mantê-lo, e discordância em pagar alguém para fazê-lo.
Ao invés de um blog, solicitou que seu site contivesse uma seção que importasse as notícias postadas em sua fan page no Facebook, tornando-as posts, o que de certa forma acabava criando um blog robô, assim digamos. Mesmo recebendo a informação de que isto não seria nem de longe o melhor a fazer em termos de SEO, escolheu esta opção pela agilidade de postar, e porque já há um bom tempo vinha mantendo a maior parte de seu relacionamento digital pela sua fan page no Facebook, onde postava toda sua vida profissional e respondia prontamente mensagens de seguidores e clientes, com o detalhe de nunca pagar pela promoção de anúncios.
Alguns meses depois, o curioso é que para um ou dois termos de busca relevantes em seu segmento de atuação, ele aparecia na primeira página do Google. Embora tenha havido cuidado na programação do site, seguindo as boas práticas de SEO, o mais provável é que não houvesse sucesso neste âmbito, e especialmente a percepção de sucesso que o cliente teve, mas o fato é que a tática maluca e arrojada proposta pelo cliente, ao menos neste caso funcionou, e ele podia de fato comemorar novos contatos e negócios gerados pelo site.
Conclusão: seja Punk, faça do seu jeito
Atualmente passamos a confiar demais em especialistas e ferramentas, em fórmulas de sucesso garantido e empreendedorismo de palco. O fato é que conheço muito mais exemplos de pessoas, pequenas empresas e profissionais liberais que conseguiram girar seu negócio sem grandes recursos iniciais(criando algo novo, medindo riscos e consequências, mas fazendo acontecer com o que tinham na mão, do jeito que dava), do que pessoas que enriqueceram com fórmulas espetaculares – na verdade não conheço nenhum destes ricos.
Ser Punk, é ser selvagem, é sobreviver, é evocar o espírito dos primeiros humanos, que não tinham nem mesmo fogo para iluminar e aquecer, ou armas para se defender de animais predadores, e foram desenvolvendo seus próprios meios para perseverar e superar as atividades, contando com sua força de vontade e imaginação.
Mesmo com toda a tecnologia de meios e métodos, não se pode esquecer da frase basilar “a ferramenta não faz o artesão”.
Quem a proferiu foi um rapaz que a partir de uma empresa de garagem, e um espírito selvagem e implacável, criou uma das maiores e mais valiosas empresas de tecnologia do mundo.
O nome do rapaz é Steve Jobs.